sexta-feira, 30 de abril de 2010

Escola de Música: Universidade ou Conservatório?

Seja por imaturidade ou pelas numerosas deficiências do sistema educacional brasileiro (desde a educação infantil até o ensino médio) observa-se um despreparo dos estudantes para o ensino superior. Não está claro qual é a postura esperada de um estudante universitário. E no caso da música essa postura ideal está ainda menos clara.

Tradicionalmente o ensino de música no Brasil se deu através de conservatórios. Segundo Eleide G. Castilho, é durante o período Pombalino (1760-1808) que surgem os conservatórios de música no Brasil, “...visando mais o aprendizado técnico da música [do que o ensino funcional praticado até então pelos jesuítas para catequizar indígenas]” (PINTO, 1998, p.14). E desde então a pedagogia musical brasileira apenas reproduziu os padrões europeus de transmissão de conhecimento. No século XX, sugiram significativas mudanças nos parâmetros de ensino musical europeu, principalmente na musicalização, e isso também refletiu em parte do ensino musical do Brasil. Mas esses novos parâmetros ainda hoje são desconhecidos por muitos conservatórios nacionais. A força da tradição nessas instituições dificulta muito transformações desse nível, pois isso afetaria enormemente o tipo de ensino ali praticado.

Belo Horizonte já teve um conservatório. A partir de 1925 o Conservatório foi gradativamente ganhando expressão até que em 1962 entrou para UFMG e em 1997 veio para o Campus Pampulha. Digo que o conservatório veio, porque muito da mentalidade “conservatória” permanece. E também porque não houve um desejo pronunciado de adaptar esse conservatório para sua nova realidade universitária, como vocês podem checar nesse resumo histórico aqui:

http://www.pdfqueen.com/html/aHR0cDovL3d3dy5tdXNpY2EudWZtZy5ici90ZXh0b3MvaGlzdG9yaWEucGRm

De acordo com definições “wikipédicas”, “uma universidade é uma instituição pluridisciplinar de formação dos quadros de profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano.”

E nossa própria universidade diz que “A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), nos termos do seu Estatuto, aprovado pelo Conselho Universitário em 5 de julho de 1999, tem por finalidades precípuas a geração, o desenvolvimento, a transmissão e a aplicação de conhecimentos por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, compreendidos de forma indissociada e integrados na educação e na formação técnico-profissional dos cidadãos, bem como na difusão da cultura e na criação filosófica, artística e tecnológica.”

E também que “visando ao cumprimento integral das suas finalidades estatutárias e ao seu compromisso com os interesses sociais, a UFMG assume como missão gerar e difundir conhecimentos científicos, tecnológicos e culturais, destacando-se como Instituição de referência nacional na formação de indivíduos críticos e éticos, dotados de sólida base científica e humanística e comprometidos com intervenções transformadoras na sociedade e com o desenvolvimento sustentável.”

Muito além da função inicial do Conservatório Mineiro de Música de “ministrar a instrução musical em todos os seus ramos, formando professores de música, de instrumentos e de canto, compositores e regentes de orquestra”, não é mesmo?

Me parece que não são muitos os que compreendem a abissal distância entre o ensino de música do conservatório e da universidade. E, a meu ver, a falta dessa necessária compreensão gera equívocos na avaliação do ensino do nosso curso.

A disciplina “História e Música”, por exemplo, é ofertada atualmente com uma visão transversal da história da música ao contrário da narrativa histórica cronológica, antigamente adotada. Essa abordagem, de acordo com uma de suas ementas, privilegia a compreensão da música a partir de múltiplos focos de análise a fim de incentivar uma visão crítica do estudante sobre o processo histórico de produção musical. Mas a antiga perspectiva de educação, especialmente a difundida (e ainda não exterminada) pelos conservatórios, defende a transmissão passiva de conteúdo através da descrição eurocêntrica evolucionista da história da música européia ocidental. Pois no entender dessas instituições, o que o estudo da história da música deveria oferecer a um instrumentista, por exemplo, é o conhecimento dos períodos históricos em que as peças que ele interpreta foram produzidas.

Não se trata de discutir sobre as preferências individuais de cada estudante ou professor. Mas de refletir: qual modelo de ensino melhor se alinha com o papel da UFMG? Uma atuação crítica e participativa dos professores e alunos analisando a história da música a partir de uma perspectiva de processo inacabado, isto é, considerando inevitável a contribuição dos alunos para esse processo e assim não apenas incluindo, mas evidenciando a responsabilidade desses estudantes na construção dessa história ou uma postura de receptividade passiva do corpo discente, visando principalmente à assimilação de conteúdos consagrados da história da música européia ocidental reproduzida unilateralmente ao longo de séculos de colonialismo no Brasil? A primeira se aproxima da disciplina “História e Música” de que dispomos hoje e a segunda da História da Música ensinada em conservatórios e escolas de música Brasil afora.

O problema está na atual demanda de alguns alunos e professores pela retroação através do restabelecimento da História da Música. Isso demonstra que as atribuições da universidade não foram compreendidas apropriadamente.

Chimamanda Adichie, uma escritora nigeriana, discursou em uma conferência internacional sobre a perversidade da narrativa unilateral da história de um povo falando de como preconceitos absolutamente infundados são tomados por verdade devido à falta de diversidade de perspectivas sobre algo.

Espero que nossa posição privilegiada dentro de uma instituição como a UFMG não seja desperdiçada em retrocessos esterilizantes e que possamos, pelo contrário, produzir conhecimento com cada vez mais lucidez e liberdade.


Barbara Viggiano, aluna do 7º período de Bacharelado em Flauta

terça-feira, 27 de abril de 2010

PALCO MEU















O Projeto “PALCO MEU” surgiu da necessidade vital de se fazer música.
O principal objetivo do projeto consiste em divulgar a produção artística
dos alunos do Curso de Música da UFMG à comunidade acadêmica. **Essa
produção é semeada pela variedade de estilos e propostas musicais,
refletindo a realidade da Escola de Música, que em 2009 deu início a
dois novos cursos: Música Popular e Musicoterapia. *
*O D.A. Música conta com a participação de todos na estréia do "PALCO
MEU", pois se o palco é nosso, a platéia é de vocês!!*